Decepção, frustração, descontentamento, frieza, orgulho,
tudo isso se vão, são vãos. Não se pode conter em memórias, devem esvair, fluir
para fora, sair. Objetos que nos cercam e tentam ferir a nossa fidelidade,
então transformaremos em ensaboados, lisos, escorregadios, inseguros. Carecemos deixar se perder, impensável
guardar, sim expulsar. Nada de dó, mandaremos despejá-los, sem piedade ejetaremos
de mãos abanando, jogamos puramente longe. O seu maior inimigo é o amor retido,
enraizados em profundos metros. Não resistem a um coração puro e sincero,
querendo amar. Esse é o segredo.
Quando filtramos na peneira do Amor os nossos sentimentos e
emoções, somente fica o que é bom, agradável, afável e de deleite. Pois o Amor
permanece, é perseverante, tudo suporta, persiste ao vento, age unilateralmente
sem esperar recompensa, confia apenas. Prevalece no tempo, inabalável nos
tremores, insiste ficar em pé quando cair é a regra. Como as imponentes
muralhas da China construídas para durar, intimidam pela sua grandeza e
infindável tamanho que os sobrepõem, cercando todo o vasto território.
Protegendo dos maiores inimigos, evitando qualquer invasão para a destruição
das suas riquezas e roubos dos tesouros guardados dentro das terras sob
soberania chinesa. Independentes da situação sejam qual for às circunstâncias
do momento, não importante a colocação desfavorável, contudo não viram ruínas
por mais ataque atinja as suas bases. Não se desespera perante a força do
oponente, pois sabe que foram firmadas em rochas.
O amor é estável, mesmo sob pressão sofre pacientemente,
espera para abraçar, logo amar. Chora as suas dores em sorrisos para alegrar a
quem estar pertos. Todavia espera a justiça, não se precipita em fazê-la com
suas mãos de qualquer maneira, aguarda o jeito e o tempo correto em que volte
tudo nas suas ordens. Por causa da sua retidão, também não aceita qualquer
vantagem ou privilégio que venha de procedência duvidosa, tentando em
beneficiá-lo causando o mal. Negando ser um negociante de vida ou barganhador
de princípios, sabedor do valor que confere cada pessoa, usa as coisas e ama
pessoas. Não comporta a negligência do repertório para resolver os problemas,
sua consciência viciada em lembrar que existe algo para solucionar, não cessa
de bombardear a memória com os diversos clichês que o lembram onde estiver.
Possui de atributo compaixão que permite ser tocado pelo
outro, de maneira nenhuma se omite, do contrário é comovido por uma pulsão de
ajudar, tendo em vista em se sacrificar. Fere-se e padece aflições para o
amado, usa em seu favor para transformar e mudar a si mesmo. Dar um passo atrás
na sua decisão para fazer a melhor escolha, confessa e se arrepende das suas
falhas. Faz promessas e as cumpri, com muito esforço. Uma auto-doação de forma
voluntária destinada ao crescimento, seus desejos estão voltados no
prosseguimento da missão, nega suas próprias vontades olhando para frente,
sempre avante.
E termino com um texto de Paulo Brabo
“O senso comum exige que o amor é cego e nos faz estúpidos,
mas o senso comum é um velho antiquado que ama usar de sarcasmo sem ser
compreendido. Tenho forte tendência a crer no contrário; como ensinou-me meu
amigo Ivan, para quem amar não é ser afligido com a cegueira, mas ser premiado
com “uma lucidez exacerbada”, um conhecimento privilegiado e sem qualquer
distorção da verdadeira natureza da pessoa que amamos.
Amar implica em lucidez: talvez seja por isso que amamos
menos do que deveríamos. Porém não há quem não se orgulhe da sua lucidez, quem
não lute para defendê-la e vê-la reconhecida. Deixar-se amar, por outro lado,
demanda singeleza de coração, autoconhecimento e autoestima – virtudes quietas
que raramente andam juntas, e que mesmo separadas são mais raras do que a
lucidez.
E se amar é assim custoso, ser amado requer maior despejo e
envolve riscos maiores. Quando amamos nos submetemos ao risco perene de perder
o que temos de mais precioso; deixando-nos amar nos submetemos ao risco de
perder a nós mesmos.
Quem não iria desejar o amor? Quem seria louco de tentar? A
condição humana reside na intersecção entre essas hesitações, e em cada uma de
suas precárias execuções. ”
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